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quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Fim.
Estarei escondido aqui e nas páginas da Ler.
BALANÇO:


1) O livro não inclui outras narrativas. O livro quer mostrar como o que escrevemos não nos impede de falhar.

2) Não há nenhuma tentativa de inovar na pontuação: Mário fala sozinho.

3) Uma coisa é certa: no Mau-Mau não há a quantidade habitual de clichés  fedorentos que podem encontrar nos livros dos queridos da crírica literária lusa.

4) Estou a trabalhar no meu projecto ( disfarçado de  adaptação de um mito português aos tempo de  hoje).  É anterior ao Mau-Mau. Talvez tenha direito a   um blog no qual anotarei o que me apetecer.

5) Continuarei arredado do sistema lisboeta-mediático. Se acabar o livro, procurarei uma pequena editora  regional ou tentarei uma edição de autor.


sexta-feira, 10 de junho de 2011

CAIXA DE CORREIO:

Entro em sabática de blogues. Como a sabática será longa, mensagens  podem ser deixadas nesta caixa de comentários. Só mensagens ( dificuldades de distribuição do livro, correcções, etc).

Nota: quem estiver interessado em jantaradas e discussões em Caminha-Moledo, na primeira quinzena de Agosto, deixe contacto.
VERÃO QUENTE (VI):

A urgente coligação está quase pronta. Se tem arrancado antes das eleições, seria uma aliança. Uma coligação é fraca, uma  aliança  é forte.
Uma aliança traduz uma vontade férrea e franca.  Uma coligação é apenas um pacto. Pode ser táctico ou defensivo, mas será sempre circunstancial, portanto, frágil.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

DIÁLOGOS DO FUTURO (VI):

Aperfeiçoar-me no fracasso. Ir ao encontro dele.

Carlos de Oliveira- Teremos  descoberto um mito? O astro canibal que se alimenta de todo os outros?
Benjamin- O editor disse-me: O que o senhor escreve não tem qualquer efeito sobre o público, não atrai mesmo nada.

Sim. Serei constante.
VERÃO QUENTE (V):

O mar, o mar. Tanto que o ouvi na última campanha: temos de nos virar para o mar. Se fôssemos suiços ou paraguaios , ainda  se percebia este encavalitamento nas costas de um vizinho para espreitar o mar. Pois se ele está mesmo à nossa frente, por que raio temos de nos virar para ele? Para onde andámos  nós virados?
O pior é que se nos dá para imitar os boat people acabamos  nos Açores.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

 DIÁLOGOS DO FUTURO (VI):

A direcção-geral da Administração Interna  diz que os mortos são uma falsa questão*:

Borges- A democracia é  uma suspeição baseada na estatística.
Auden- Ser era um incómodo arcaico.

 A direcção-geral é uma paideia.


* a partir do oitavo minuto


DIÁLOGOS DO FUTURO (V):

Com a crise, como  fica  a ideia  material da felicidade?

Gracián- Existem espelhos para  a cara , mas não para o espírito.
Agostinho- Não é certo, pois, que todos queiram ser felizes.
Gracián- Sim, nos grandes apertos, não há melhor companhia do que um bom coração. 

Vocês não são deste  tempo.


VERÃO QUENTE (IV):

Estes governos  socialistas e burocráticos são todos iguais. Não lhes bastava uma Comissão Parlamentar de Finanças, um Banco de Portugal, um Tribunal de Contas e uma Troika: tinham de arranjar  um zingarelho para fiscalizar os fiscais das contas  públicas.

terça-feira, 7 de junho de 2011

VERÃO QUENTE (III):


1) Se bem  recordam, o Engenheiro Belmiro de Azevedo  iniciou o socratismo espectacular-televisivo-moderno  com umas implosões em Tróia. Agora inicia o passismo com muitos elogios, enquanto ferra no anterior  homem do TNT e volta  a chamar empregados  aos  ministros ( Marques Mendes estava um bocadinho acima , na categoria de porteiro).

2) Ana Gomes ( na Antena1) desenterrou a história "do político português que ia de cabeleira postiça  aos prostitutos" ( sic) , isto numa peça toda ela dedicada a Paulo Portas. 

Os amplos consensos e os trabalhos de equipa arrancam cheios de força.
DIÁLOGOS DO FUTURO (IV):

O  Reverte diz que  a mulher é o único herói interessante do século XXI.

Valery- Deus criou o homem e,   ao descobrir que estava só, deu-lhe uma companheira para que percebesse melhor a sua solidão.

Então prefiro a heroína.



VERÃO QUENTE (II):

Dantes era vá para fora cá dentro. Agora é só vá para fora.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

VERÃO QUENTE  (I):

O governo vai ser dez ministérios  mais um . O um é o ministério das prestigiadas  sociedades de advogados que vão renegociar ( é tempo de eufemismos) as PPP.
Custos? O pessoal que vá apanhar  cereja para a Cova da Beira , como sugeriu o dr. Ângelo Correia ( uma boa ideia,  mas, neste contexto,  talvez  demasiado boa).
ANTÓNIO COSTA:

Aí está um homem ao qual confiaria  o meu voto. Faz a melhor síntese da capacidade política, intelectual e moral. Seria, na oposição, uma vantagem para o país.
Provavelmente o PS não o quer. Uma pena.
CANVAS MIRONES:

Em Coimbra há uns  acampados ao pé da igreja de Santa Cruz. Lá estão , coitados, agora à chuva,  mas notáveis são os mirones. Mulheres a caminho do trabalho e velhos reformados param e ficam a mirar. Comentam, falam, analisam, quase orientam.
O mirone faz parte da paisagem portuguesa.
A VERGONHA:

Uma jornalista da Rádio Renascença pergunta a Sócrates: " Acredita agora  que os processo judiciais ( Face Oculta, Freeport) podem regressar?".
Vou contar os dias para ouvir uma reacção de despeito, por pequenina que seja, da parte dos magistrados portugueses. Não pode estar tudo morto.
A MOBILIZAÇÃO INFINITA*:

Mobilização, amplo acordo social, diálogo. Este é o roteiro para uma das culturas mais anti-colectivistas da Europa:  a portuguesa. O nosso traço psico-cultural determinante é, na minha opinião a absoluta incapacidade de trabalhar em grupo para um objectivo comum. Eu pecador, pelo lado da indisciplina,  me confesso.
Os grandes certames  ( da Exposição do Mundo Colonial ao Euro-2004) escapam,  porque nos queremos  mostar ao mundo e há dinheiro; o futebol escapa, porque parte do  colectivismo bairrista para a guerra à comunidade ( o que explica que um árbitro, sempre deles, comece a ser vaiado quando entra em campo). 
 Sei que há muitas teorias.  A orografia ( rincões entranhados e isolados  durante séculos), a depressão pós-Expansão, o salazarismo, etc. Interessa-me a essência: não acreditamos que o trabalho colectivo nos favoreça individualmente. É verdade e isso define a nossa recusa.


* roubado a Sloterdijk.


domingo, 5 de junho de 2011

FUMAR MATA:


1) Um presidente , um governo, uma maioria: foi necessária a bancarrota para cumprir o sonho de Sá Carneiro.

2) Não sei o que invejo menos à equipa de PPC:  se a  crise se  Paulo Portas.

3) Um bom discurso de  Sócrates. Terá lido Kraus (  convenço o meu adversário a seguir  a minha flecha)?

4) A esquerda que apenas  se ocupou da agenda LGBT ( parte do PS,  o Bloco e panfletistas diversos) teve o que merecia.

5) O novo PS, enquanto oficialmente jurará fidelidade à palavra dada,   fará tábua rasa ( nos media, nas redes sociais, nos sindicatos)  do que o antigo assinou. Vão ser tempos interessantes.

6) A crise vai passar a ser a grande responsável pela situação portuguesa.

sábado, 4 de junho de 2011

Lion Hunting Massacre



Este vídeo difunde uma mentira mil vezes mil repetida. Nunca foi a caça desportiva a responsável pela razia de efectivos. Leões, elefantes, búfalos  e rinocerontes foram, sobretudo entre os anos 20 e finais de 50, dizimados pelo crope control. Esta actividade consitia em limpar áreas, muitas vezes equivalentes ao Alentejo, de animais daninhos para a agropecuária. Os bichos eram oficialmente classificados  como vermins e todas as restrições impostas à caça desportiva eram levantadas. Os interessados eram sobretudo agricultores brancos, como brancos eram os white hunters que,  nessa missão,  conseguiram atingir recordes mórbidos. Não era  raro um white hunter acabar  a carreira com mil búfalos ou oitocentos elefantes no saco. Fêmeas e crias incluídas.
ALGUÉM SABE?

Se os problemas   ocorridos nas últimas presidenciais já estão resolvidos? Ou vamos  ter psicodrama?
DIÁLOGOS DO FUTURO (III):

Livros electrónicos, i-pad, etc , hã?

Benjamin- Os livros  e as prostitutas gostam de mostrar a lombada, de nos voltar as costas quando se expõem. 
Kraus-E não podes ditar um aforisma a uma máquina. Leva demasiado tempo.
Benjamin- Livros  e prostitutas têm muitas crias.
Kraus- Bem, muitas  pessoas escrevem porque lhes falta o carácter para não o fazer.

Vocês são demasiado vagos.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Assembleia popular 23M Rossio



Quando não há nada para fazer, a burocracia é um hábito  que se aprende.
Já o  nojo face ao lixo , à idade dos participantes e   à posição do sol,  é apenas esclerose.

( vias de facto)
DIÁLOGOS DO FUTURO (II):

E o que vamos ver?
Goethe- A primeira de todas as qualidades é a atenção.
Benjamin- Mas divide  a primazia com o hábito.
Compreendo. Teremos  de estar atentos ao hábito de estarmos desatentos.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

ESPERA-SE A TODO O MOMENTO:

O outro dourar da pílula, feito nos locais habituais, autênticos fortes da isenção e deontologia jornalística.


MEIAS TINTAS:

Um aspecto marcante da nossa vida pública, desde a normalização democrática ( circa 1978), é o de termos vivido numa prática capitalista  com uma cultura de esquerda. Por exemplo: suculentas negociatas, mas SNS gratuito. Outro exemplo: consumismo desenfreado, mas burocracia esmagadora.
O ideal seria limpar isto. Ou passamos  a viver numa cultura capitalista - cada um trata de si e a Igreja trata dos pobres - ou adoptamos uma verdadeira prática socialista: acabam-se os sonhos  de  viagens a Cancun para as repositoras  dos hipermercados. Ambas as opções envolvem grandes tumultos, mas com diferenças.  Na opção capitalista, fogo lento e muita munição 7.65mm NATO;  na escolha socialista, uma purga e prisões sólidas.
Claro que podemos  sonhar. Voltar atrás no tempo. Apagar Tordesilhas e certificar Camões como genovês. Ir ao início do século XX e decretar uma república luterana. Pousar nos anos 70 e incluir nos programas escolares o espírito das hojskole  dimarquesas em vez da teoria geral dos grandes lábios. Também podíamos encontrar o Prestes João e não se falava mais disto.
Em qualquer dos  casos,  não esquecer: redigir apenas  893 leis novas por ano. Os especialistas dos pareceres jurídicos fariam serviço cívico para desentorpecer as pernas.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

DIÁLOGOS DO FUTURO (I):

O que vos parece? Como vai a ser a rua?
Gramsci - Os chefes sindicais tornaram-se banqueiros de homens em regime de monopólio.
Ostrogorski-  Pois, o partido ideal é uma organização temporária, criada  com vista  a uma reivindicação específica.
Mosca- O maior perigo para o parlamentarismo vem  de um governo sindical, porque  o sindicalismo nasce não das doutrinas ou das paixões, mas da organizaçao económica da sociedade,
O CENTRALISMO DEMOCRÁTICO :

Do RAF.  O voto não é teu, é do povo ( como a obra da arte, para Preobrazhensky), a tua escolha prejudica  a revolução,   o desvio é pequeno-burguês  e diletante, etc.  Nem  falta a alusão  psiquiátrica ( a Freud).
É por estas e por outras que eu  nunca trabalharia no PCP.
O MEU VOTO (II):

Na altura dos pseudo-empates técnicos, escrevi aqui ( e,  até antes, no Mar Salgado) que acreditava na vitória do PSD. A explicação residia na intrepretação que faço da velha lei da política: seis anos de governo e uma situação como a actual não deixam margem para novidades. Também continuo a pensar que será uma vitória apertada ( agora, no típico movimento bipolar, já se fala numa vitória folgada). Acontece que os problemas só agora começarão.
Como não tenho agenda nem ambições pessoais no que ao comentário político diz respeito, encaro com preocupação a capacidade de uma equipa política que ainda há dois anos defendia um TGV de produção nacional, apenas porque tinha perdido para MFL ( veja-a a peça: "Mais uma diferença para MFL"). É notável que , apesar disto, muitos soldados do actual PSD ( incluindo jornalistas) tenham   a lata de falar  em rancor dos ferreiristas e pachequistas? É, mas também é a natureza humana. Ou seja, tanto quanto me diz respeito, ainda é uma equipa das divisões inferiores da  política ( não quero acreditar que tenham dito coisas dessas com convicção, porque então seriam apenas perigosamente estúpidos).
Também é verdade que, por não ter a tal agenda nem as tais ambições, concedo que o novo governo venha a ser um bom governo. Muita coisa mudou e é possivel que o novo governo pense mais  no país  e menos  na sua reeleição. Parafraseando Victor Cunha Rego, a rua será um lugar perigoso. Do meu posto de espectador da província apoiarei sem reserva mental  tudo que me parecer bem feito. 
O meu voto, esse já está decidido ( ver em baixo)  e é instrumental.
Fim de análise metapolítica, regresso a outros matos.
INGENUIDADE BENFIQUISTA:

Espero bem que as escutas feitas aos dirigentes do Benfica, se confirmarem aldrabices ou crimes, sejam aceites pelo tribunal. Desejo que se numa escuta se ouvir  A dizer que inflaccionou o preço de B para pagar a C, o juiz não pense tratar-se de um assunto de balões. Também espero que não haja arguidos avisados  sobre eventuais mandatos de detenção nem desejos súbitos de visitar Badajoz.
Lisboa não é uma cidade sequestrada :  justiça para todos.

terça-feira, 31 de maio de 2011

O MEU VOTO:

O voto é instrumental - serve para definir as prioridades que cada um defende. Do meu ponto de vista, nos próximos anos a prioridade máxima será  a protecção dos que mais  vão sofrer  com o empobrecimento generalizado e com o derrame  de direitos fundamentais. O partido que melhores garantias me dá de fazer essa protecção é o PCP. O meu voto será, portanto, na CDU.
Sim, eu só veria um imaginário mundo comunista em Portugal através das grades de uma cela ( na melhor das probabilidades). Acontece que o mundo real, o de hoje,  dos comunas é um mundo de respeito, solidariedade e honestidade. Estão aptos a defender quem eu entendo que vai necessitar de ser defendido.
E não, não precisarei de tapar o símbolo na hora de votar. O que se faz livre e conscientemente não envergonha e é até um prazer malandro poder votar  num partido comunista existindo um amplo  leque de alternativas.
DESDE QUE VI UM PORCO ANDAR DE BICICLETA:

Ainda  continuo a admirar-me. Ontem, na RTP-N, vi Rui Moreira,  que já fez 23858765 elogios aos Super-Dragões, e é especialista  em lambadas à porta do Shis, comentar o caso do vídeo dos pontapés a uma jovem:  "Isto, a juventude,  a violência, isto está uma desgraça, tem de haver punições exemplares, etc"..
PROBLEMAS , SUPOSTAMENTE, DE OUVIDOS:

"É por estas e por outras que o nosso jornalismo está como está" ? Todo? Só algum?  Quais os critérios? O meu caro Luís Naves deve estar indignadíssimo.
Dos ouvidos, o jornalismo deste  texto está de certeza doente. Leiam os comentários e esperem ( sentados, provavelmente*) para saber onde   o meu também caro Pedro Correia e  Francisco Almeida Leite ( jornalistas) ouviram JPP queixar-se, na Quadratura,  de ter sido excluído das listas de deputados.


* Confirma-se. O Pedro Correia pura e simplesmente não responde. Estou esclarecido.
SENHORA MORTE (IV):

Um dos muitos mistérios. Se sabemos que vamos morrer, por que  desperdiçamos tanto? Ando de volta disto há anos.
Ajudas. Píndaro. O desproveito é o que calha em sorte aos maldicentes. Está bem, mas não vai ao osso: os que se perdem com as vidas dos outros nem chegam a saber como  viveram.
Se para os homens a morte é necessidade, por que razão alguém se agarraria em vão, sentado nas trevas, a uma velhice anónima? Ora bem.
Sai uma resolução para a mesa oito: morre como se não esperasses viver.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

CHAMA-SE PASSOS COELHO:

"Também António Mega Ferreira falou sobre o principal adversário do PS nas eleições, mas em vez de nomear Pedro Passos Coelho referiu-se sempre a um “líder partidário cujo nome não me ocorre”.

E a mim ocorre-me o nome de Mega Ferreira, porque o li no livro de Pedro Feytor Pinto, o porta-voz de Marcello Caetano. Ocorre-me que Mega Ferreira trabalhou na Repartição de Imprensa Estrangeira , que dependia directamente  da marcellista   Secretaria de Estado da Informação , embora refira aqui as conversas pouco recomendáveis que Alçada  Baptista teve com Marcello Caetano.
Como o mundo é pequeno e os homens também, não é?
PRETEXTOS:

A crise e o resgate engendram outra maladia, tão ou mais infecciosa do que o empobrecimento: a inacção. Por exemplo,  quando o bastonário* da Ordem dos Advogados  se refere a  uma sentença de um juiz como sendo "terrorismo de estado". Isto não causa comoção, não importa, não significa nada?
O pretexto da crise vai encobrir a nossa incapacidade de tentar resolver problemas que não têm a ver com o dinheiro. Na justiça,  muita coisa dependerá das finanças, mas o terrorismo de estado de certeza que não.


* E repetiu que as prisões  são escolas de crime. Não se entende por que motivo estes  adeptos da escola da sociedade criminógena não defendem a pura e simples extinção das prisões.

domingo, 29 de maio de 2011

MARIA MADALENA NO BLASFÉMIAS:

Ou Angeli e o seu Ralah Ricota: "O líder do PSD levou um banho de uma multidão que se atropelou para o poder tocar e beijar".

SENHORA MORTE (III):

Os devoradores de homens são selectivos e, ao mesmo tempo, casuais. Tsavo e Rudraprayag,  sempre, porque chegaram  aos jornais imperiais. Centenas de outros. E, noutros matos, muitos mais. O que chamamos a alguém que viveu  50 anos com outra pessoa?
Comeu a voz, a carne, o riso, o despeito. Não fica saciado? Os grandes gatos também não.
SENHORA MORTE(II):

Vimos a esperança ( uma passadeira para peões diante do IPO),  vejamos a certeza.  Ninguém planeia  a vida a contar com  ela. Por exemplo, deixa-me ir ao Lago Tana antes que ela me leve. Ou:  Quero dizer-te  que não daria a vida por ti.  Por algum motivo, somos, no entanto, capazes de planear a falta  de arroz  ou chá na dispensa.
Estão enganados. Não é  por causa da inevitabilidade. É porque ela aloja-se-nos na pele. Ninguém dá conta dos pedaços de pele morta que se escapam para os lençóis.

SENHORA MORTE (I):

Atravessam  a rua em passo médio. Vão  sempre acompanhados. Se repararmos bem, amparados. Por debaixo da boina, chapéu  ou lenço, alguns têm  o  crânio liso. Muita discrição, deixaram o carro longe, vêm da serra para o IPO.
Sim, alguns sobrevivem, eu sei. Ela às  vezes deixa uns para dar o exemplo.


sábado, 28 de maio de 2011

MANIPULAÇÃO DESCARADA:

Tem razão o CC. Toda.  E já li bertoldinhos  benfiquistas:  dizem que para eles  o homem morreu  porque vota PS.
Ou seja, infantilismo rufia. E dizem-se muito preocupados com o estado do país
CULPADOS:

Crentes no socratismo, de certeza.
TRANSPOSIÇÕES:

Os organizadores dos  acampamentos europeus  queixam-se da diferença de tratamento e de adesão relativamente  às sublevações árabes. Julgam que estão a fazer a mesma  luta e por isso não compreendem  a discriminação. Há muitas coisas que não compreendem:

1) Não é difícil compreender que um europeu médio não necessite das  juvenis praças para  exprimir democraticamente. A menos que ceguemos face ao que conquistámos  nos últimos dois séculos. É por isso que os mais entusiastas da movida são os democratas de inspiração cubana, estalinista e Ho-Chi-Min style. Há um pequeno problema de tradução.

2) Os media, que não são parvos e têm de  fazer dinheiro com um mínimo de credibilidade,  não sabem como  vender a ideia de que os jovens enquadrados pelos seguidores de Badiou estão a lutar pela democracia. A comparação com as sublevações árabes acaba em dois planos:

a) No dos  costumes, uma  lisboeta  pode adormecer de mini-saia,  vagamente alcoolizada, no Rossio sem ser incomodada com outra coisa que não um pequeno-almoço no dia seguinte. No Cairo acordava algo combalida.

b) No político, os árabes não têm culpa do essencialismo ( a base do orientalismo) que assaltou os observadores europeus.  A revolta tunisina e egípcia  foi muito mais do que uma luta pela democracia. No norte de África, os homens e mulheres que decidem arriscar a vida em batelões decrépitos até Lampedusa,  não o fazem pelas ideias de Burke ou Tocqueville.

Que existe  um grave problema de representatividade nas democracias europeias, não se nega. Que muitos destes jovens estiveram, até hoje,  orgulhosamente apartados da política , idem. Agora tocou a sineta?  Sim, mas vai ser necessário levantar o acampamento. As batalhas não se ganham a bivacar.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

METAPOLÍTICA (XIII):

Venho do comício do PS,  no  Pavilhão da AAC/OAF ( Jorge Anginho), porque quis iniciar a cria mais  velha nestas lides.   Cheio, é verdade, mas também reduzido: cercado a feltro preto, só estava disponível o terreno de jogo. Um speaker  mais  oleoso do que o habitual, um discurso de  Ana Jorge  entre  o microlax e o diazepam, um bom discurso de Alegre ( pese a  arenga  sobre o neoliberalismo  para entreter  macotas). Entusiasmo genuíno ( os que tratam estas  pessoas como imbecis descerebrados deviam ir viver para Kandahar  ) da plateia face a duas bandeiras: O SNS  e a tradição socialista coimbrã. Ovação da noite à exigência de Alegre: Se excluem José Sócrates, excluem-me  a mim.
O osso. Deformação profissional, talvez, mas cheirei mais garra colectiva do que devoção ao líder ( ouvi dizer que  a JS de Coimbra não aprecia muito o  secretário-geral). Dá a ideia de autêntico cerrar de  fileiras.
Feitas as contas, talvez não  seja mau para o resultado eleitoral do PS.


Adenda: já li a história dos autocarros. Uma novidade enorme, talvez a maior desde a invenção da gasosa. O que é certo é que, do meu posto de observação , bispei dezenas de pessoas de Coimbra ( cumprimentei algumas, de outras fugi).  Vi o  que vi.
O EFEITO ZELIG:

 Passos Coelho é o Zelig desta campanha. Se estiver com caçadores, dispara, se estiver com conservacionistas*  maldiz a fisga; se estiver com produtores de arouquesa, come um T-Bone, se estiver com veganistas ilegaliza a carne; se estiver na Luz, fala do Apito Dourado, se for ao Dragão  pede  um autógrafo a Pinto da Costa.
Se estiver sentado está de pé.


* por acaso os caçadores são os maiores conservacionistas e também penso que  há um pedaço de bonomia genuína nesta faceta de PPC, mas nada disto vem ao caso agora. 

quinta-feira, 26 de maio de 2011

5.000$ UM LEÃO.
ACTUALMENTE:

O melhor blogue , não oficial, do FCP. E azul, como deve ser.
METAPOLÍTICA (XII):

A equipa deste  homem, para ganhar votos ( desta vez ao CDS), não é capaz de prometer a lua: esconde-a.
VENDILHÕES:

Não há paciência para os colunistas que ganham a vida a escrever sobre a campanha eleitoral  num tom de desdém e superioridade moral.
LER, LER, LER.
AS MONUMENTAIS:

Os comunas pintaram as escadas.  E muito bem. Todos os comunas que conheço são boas pessoas e as boas pessoas fazem boas acções. É aliás um caso interessante. O sistema que defendem é excelente, os sistemas que levaram à prática são criminosos e  as pessoas são óptimas: trabalhadoras, honestas e amiúde  inteligentes.
Coimbra tem o património histórico  da Alta  em cacos,  está  infectada por shoppings,  tem uma ex-futura linha de metro urbano  a rasgar a cidade, uma Baixa sórdida e entregue  a vagabundos e o problema foi uns baldes de tinta numa escadaria dos ano 40? Vão dar banho ao cão.
ALÁ SEJA LOUVADO: FINALMENTE A EXPLICAÇÃO.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

DA LINGUAGEM:

Discordo em absoluto da tese da justa indignação. Não é necessário  ir a Bocage: Fialho de  Almeida fazia  mais  com menos. Que autoridade terá JPP, para, no futuro, se queixar da linguagem de jovens  deolindas? Nenhuma. Nem para depois, enfadado,  lamentar a qualidade  do  ensino , da fraca  retórica e da desagregação do mundo em geral. 
Orwell  escreveu um pequeno artigo,  no Tribune ( na série  As I please, Março de 1944),  sobre a invasão da língua inglesa pelo martelo marxista. Poupo-vos a recensão ( leiam vocês) , mas imaginam:  banho de sangue, facada nas costas, pequeno-burguês, hiena, etc, Agora Sócrates é Hitler, Saddam e Drácula.
O marketing do  PSD não pode ser acusado do martelo marxista ( leninista e trotskysta para ser mais exacto).  Dir-se-ia que recorreu a figuras  da imaginação  popular, algures entre o Holocausto, a CNN e o   Bram Stocker cinematográfico.
Seria mais honesto  se as figuras do PSD tivessem utilizado cão raivosolacaio e chacal? A julgar pela bitola de JPP, seria, pelo menos , mais corajoso.
METAPOLÍTICA (XI):

As vozes independentes, sobretudo as partidárias, podiam desempenhar um papel normalizador na campanha. Tomemos, por exemplo, Marcelo  Rebelo  de Sousa e   Manuel Maria Carrilho.
O primeiro, que gosto de ouvir porque  é muito bom no que faz ( coisa rara na TV) , não tem conseguido escapar  a um olhar tutelar, como se tivesse aterrado ontem em Portugal. Das poucas vezes que tenta ( e tem tentado, sejamos justos), afunda-se na vichyssoise: bom para o camarote do S.Carlos, mau para o momento actual.
O segundo é intrigante. Sendo Carrilho  um homem prático ( enquanto ministro da Cultura subsidiou "As Lições  do Tonecas"),  o instinto de scavenger,  dirigido exclusivamente a Sócrates, instala no espectador uma dúvida : aquele azedume todo é político ou pessoal? Como tem deixado de fora o resto  do PS - e tanto que ele critica a socratização do partido -, a diferença conta e ainda vai contar mais no futuro.

OS CONSELHEIROS TÉCNICOS:

Marcello Caetano  recorria a um Secretariado Técnico. Nessa equipa brilhavam, segundo Feytor Pinto( livro já citado noutro post) ,  António Guterres, João Cravinho e Vítor Constâncio.  Três  questões:

1) Se o regime tivesse continuado,  esses personagens poderiam  ter chegado ao governo, mas a verdade é que, pouco tempo depois, ficaram  todos anti-fascistas.

2) Essas pessoas atravessaram a ditadura, o PREC, a normalidade, a adesão à CEE, as vacas gordas e agora as vacas magras. Isto é que  são as verdadeiras Novas Oportunidades.

3) Quando me lembro da campanha de chinela no pé contra Cavaco,  porque não pegou em armas nem foi para  a serra, não me apetece almoçar. Deve ser do calor.


terça-feira, 24 de maio de 2011

OS PEQUENOS VAGABUNDOS:


Os acampados nas praças europeias são todo um programa. Começa pelo estilo festivaleiro: tambores, boa disposição, música. Continua com o espírito  Cornélia: muitas artes  performativas, leituras de poemas,  espontaneidade e imensas reuniões para deliberar. Acaba na ordem unida: parasitados pelos maduros façon  LCI,  que os controlam e fazem telefonemas para as estações de televisão exigindo atenção.
Não são uma geração, são várias. E são gerações que, enquanto a vaca deu, diziam com orgulho que desprezavam  a política. Agora acampam , quais hologramas de um  Kerouac com espondilose. Não nos desviemos: têm razão,  esta vida não é para eles. Ou  vivem uma guerra ou definharão   como os velhos hippies.
Uma alternativa? Largar as boas maneiras e escaqueirar a fábrica social. Atacar esquadras, demolir bancos, roubar juristas, empalar políticos. À noite logo se vê.




A MEDALHA CERTA:

E Ribeiro e Castro, o advogado que iniciou o rasgar de contratos no tempo de Vale e Azevedo  ( e a quase ruína do clube)  e que, quando saiu,  mereceu  de Pinto da Costa um  fino comentário - " Os ratos abandonam o navio " -,  esteve na cerimónia.  Desta vez, recebeu um aperto de mão do presidente  do FCP.
Tudo está bem quando acaba bem.
 MEMÓRIA:

It is a well-known fact that, between the 16th and 18th centuries, the contemptuous imposition of the Sephardic Jews ultimately led to the replacement of the more ancient rites and traditions that had been practiced in Turkey and Greece. These included the Minhag Romania or the liturgical customs of the Byzantine Empire dating from the early centuries of the Common Era. The Minhag Romania, as ancient as the Italian rite, evolved based on the Palestinian traditions from the time of the Gheonim
AREIA PARA OS OLHOS:

Não se importaram com a referência ao "nosso juiz" ( ver escutas Pinto da Costa vol.4), entre  dezenas  de outras trafulhices,  bem provadas e melhor denunciadas,   e agora dizem que vão investigar uma coisa feita às claras e em público.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

 ALCALINE 12V:

-  Pascoaes, acredito que tenho dúvidas.
- A fé apoiada na incerteza ! Há lá visão mais dramática de Deus?!
METAPOLÍTICA (X):

As eleições  locais  espanholas confirmaram a velha lei da política, a que já aludi diversas vezes. Essa lei leva-me a crer numa vitória, apertada, do PSD. O resto da campanha obriga, no entanto, a algumas notas pós-desfecho:

1) Repetir à exaustão que só vota PS quem for imbecil, é capaz de não ser uma boa ideia, porque depois não saberemos  o que fazer a 32% ( ou 33%, tanto faz) de imbecis.

2) O PSD tem , em muitos comentadores, uma guarda de honra assumidamente liberal, que vai sofrer uma grande desilusão. O PSD  ganhará precisamente por que tem conseguido renegar  essa faceta ( saúde, educação, etc). Não é difícil prever bastos números de marido enganado.

3) Os jogos florais em torno de coligações pós-eleitorais revelam, infelizmente, o pior dos partidos. Se tudo é tão claro e necessário, por que motivo as coligações não são assumidas com antecedência? Simples: o que continua a importar é o poder de nomear. E o voto é uma caneta.

domingo, 22 de maio de 2011

 CEREALES VESTIDOS DE GALLETA:

- Bioy, do filho que perdi só recordo o riso.
- Desde há muito que era possível afirmar que já não receávamos  a morte  no que se refere à voz.
LEITURAS & INÍCIOS:

1) Com Mau-Mau no prelo, e a andar bem, graças à simpatia e competência da  Lúcia Pinho e Melo ( maison Quetzal) , outra aventura já se desenha. Não, escrever não é uma aventura nem uma epifânia ( qu'horror!): pretendo mesmo ser um pequeno escritor de simples aventuras, uma espécie de Enid Blyton do Benfica. 

2) Leituras. Dos cornudos: suas espécies e tipos, de Charles Fourier, edição da Cavalo de Ferro, 2004. São todos excelentes, mas o meu preferido é o cornudo misantropo:  "É o que, descobrindo a relação,  toma o mundo de ponta , pretende que o século está gangrenado e que os costumes estão aniquilados".
AMOSTRA MINERAL:

- Fiama, mentimos quando  sonhamos com a velhice?
- O passado de  job é o das imagens; estava nas areias bíblicas, via: há uma corda debaixo da terra.

sábado, 21 de maio de 2011

ADMINISTRADORES-MAMÍFEROS NAS KAPITI PLAINS.
"INCENTIBADOS":

Sim, mas não são como os   canalhas apanhados em certa escutas   a referirem-se a um juiz ( de direito) como "o nosso juiz".
"NÃO  É PELO AMOR DE DEUS, SÃO OS FACTOS":

Passos Coelho levou um directo de esquerda nos primeiros minutos (  a anterior opinião sobre o peso da  crise) , fez o seu  esgar de Jim Hacker e foi à vida . E foi bem. Ainda hoje, a treinar um jovem rogue, encaixei  vários  directos e ganchos nos primeiros minutos. No aguentar é que está o ganho.
PPC fez tudo o que que alinhavei na antevisão ( está aí mais abaixo).  Quase nunca se desviou  do guião, saltou  (como os leopardos) sobre  o seu programa,   centrou-se na garganta do adversário -  vocês falharam, vocês estão gastos- e não se deixou entrevistar. Reparem que os esgares à Jim Hacker, a partir do primeiro terço do debate, deram a vez a um sorriso complacente. Estava feito.
Sócrates, com a jugular aberta, a certa altura, pediu a ajuda do amor  de Deus. Uma boa ironia. Passos atirou-lhe"Não é por amor de Deus, são os factos".
Já vi, de relance, naquele tom ligeiro de trombeta, que muitos pensam  que isto está ganho. Não está. Lá iremos.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

CALMA, MENINOS:

É a lei, está tudo legal, vocês são só populaça e pasquins, a justiça não se discute. Bolinha  baixa.
O DEBATE DE HOJE:

Metapolítica pura. Está tudo empatado, o jogo está fechado, a única coisa que interessa é saber se o desafiante conseguirá assumir-se como tal. 
Se PPC se mantiver fiel ao argumento principal - vocês estão há seis anos no poder e falharam - e for capaz de o repetir sob mil formas, terá uma boa hipótese. Não sei  o que os conselheiros aconselharam. Dizem que a campanha tem sido regida por profissionais brasileiros e portugueses. Hoje não é dia de jogadores estrangeiros com pouco tempo de clube, hoje é dia de conhecimento do mato, dos ventos e dos bichos.
Sócrates vai fazer o que sabe: perguntas. Se PPC passar o tempo a defender a caldeirada programática do PSD, leva uma abada; se levar o jogo para cima do adversário, ou seja, se conseguir martelar  a ideia de que seis anos levaram ao FMI, tem meio caminho andado.
Um detalhe. Para que tudo isto aconteça, PPC terá de falar para os espectadores, para as pessoas ( o que irritará Sócrates  de sobremaneira) . Não será uma reunião de alcatifa, finda a qual o simpático organizador fará um resumo das contribuições dos intervenientes.



Nota: uma incontornável reunião social obrigar-me-á a assistir en diferido. Amanhã falamos.
 TITULAR DA CONTA:

-Montale, Eugenio mio,  o que se diz a um amor seguro?
-As palavras também servem quando não nos dizem respeito.
METAPOLÍTICA (IX):

1) Espantam-se com a resistência do PS nas sondagens. Reza a lenda que foi Virgílio a  cunhar a expressão ( expaentare) que ainda é muito utilizada ( em italiano)  na sua derivação latina - spavento. Basicamente, significa causar medo ( daí os espantalhos nos milheirais).
Parece que os desinteressados patriotas entenderam que tinha de ser agora, quando o real alcance do aperto ainda está muito longe de se fazer sentir. Claro que quem avisou  foram os  socretinos  de ocasião, os  bonzos do regime, etc. Aos patriotas, entre várias  aprovações da política socialista (do orçamento e PEC's avulsos ) e a urgência orgástica de eleições no mês que vem, só  interessou  o país.

2) Não me espantei, mas admirei-me: Fernando Nobre ganhou um debate. Hoje, contra Ferro Rodrigues.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

OS BARCELONITAS DE IMITAÇÃO:

Recusaram bandeiras portuguesas na final, mas exibiram as de toda a chafarica.O pormenor de obrigar Rolando a levar a bandeira de Cabo Verde( espero que o convoquem)  define esta gente .
Já dizia Ortega: um provinciano é aquele que, esteja onde estiver, julga-se o centro do mundo.
ÁGUAS DE PORTUGAL:

Sim, Passos Coelho  tem toda  a razão: a sociedade não é do  Estado. Pena só agora. 
Em Coimbra , muito pessoal político fez toda  a carreira na sociedade do Estado (delegação regional  do  Instituto da Juventude,  Águas de Coimbra, etc). E é gente ( já promovida  neste consulado ) que tem agora  a lata de falar em mudança.
ANARQUISTAS E MANIFESTANTES ? NÃO: CRIPTOFASCISTAS:


A técnica de intimidação é velha.  Por enquanto, só garrafas partidas, berros, provocação e medo nas pessoas comuns. Começa sempre assim, pelas marchas de provocação. 
Atacar uma esquadra? Está bem abelha.
 MINI CIGARRILOS:

-Bioy, sou cada vez mais triste. Só encontro prazer em negar,  adiar e, talvez, em prometer.
- Diga-me, senhor Bordenave, você não sente,  de vez em quando, como direi, uma dificuldade para o raciocínio?
FEYTOR PINTO:

O livro de memórias  tem uma  primeira parte desinteressante ( infância, juventude e Genebra) , da qual se aproveita  uma reflxão sobre  a educação à  antiga - pouco discurso  e muito exemplo - e uma ferradela em Teresa "Heinz-Kerry": Educada na África do Sul e na Suiça, diz-se agora moçambicana  e vítima do colonialismo português. Nada mau para um quasi Opus Dei.
A coisa  aquece quando o autor vai para  a Secretaria de Estado da Informação. Para já, uma nota: muito se tem falado do trabalho de Mário Crespo com Kaúlza de Arriaga, mas só ao ler livro soube o nome do outro ajudante-de-campo: Carlos Pinto Coelho. Curioso.
METAPOLÍTICA (VIII):

Ontem foi dia de zeroing. PPC apareceu a espaços, atirando impiedoso sobre  alvos precisos ( o desemprego, por exemplo) e vi Sócrates esbracejar, também a espaços, nas televisões. É tão evidente que o desemprego não se deve exclusivamente ao governo  como é óbvio que não estamos  neste estado porque o PSD chumbou o PEC IV. Acontece que, quando as pessoas engolem uns rissóis  ao almoço ou desfalecem  à noite  diante do aparelho, é o retrovírus da política que ataca.
Sócrates  ilude os observadores. Ele não se defende, só ataca. Isto é um pedaço aborrecido para quem o quer desalojar, porque inverte o sentido natural dos instintos. No debate final, é bem provável que PPC se tenha de defender da suave apreciação que  em 2009 fez dos quatro anos  de governação socialista. Irónico, não é? Lá iremos.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

COSMODISTRITAIS:

Cosmos? Palavra de honra? Bem, é a vida. Os favores são favores.
Na TSF, uma bracarense desalinhada da ortodoxia diz que Pinto da Costa comprou o árbitro. Eu confesso que gostei do juiz da soporífera  final da Euroliga ( o Alan parecia mesmo o Soneca) .
Ele há sementes, ele há sementes...
OS FORÇADOS:

Exceptuando dever tudo, em sede de escrita,  ao Francisco, praticamente não me lembro de mais nada.
Extinção do ministério da Cutura? Grave é ter de o dizer e fazer. Para cuidar do património e apoiar um punhado de artistas é tão  necessário um como uma pulga na cama. Bem, talvez para o bolinho de bacalhau sejam precisos uns quantos atoleimados.
Agora , meu gordo, vai ver esta página do Facebook e bebe uma Guiness por mim.
ANTENA BIOY CASARES (IV):

- Bioy, o que pensas  das reuniões sociais?
- Se os cães falassem, o seu idioma seria, talvez, pobre em indicações visuais, mas teria termos  para indicar matizes de cheiros, que ignoramos.
CLUBES REGIONAIS:

Ouço na TSF os adeptos do clube dono da Liga Norte  e do  outro, o que apanha as migalhas.  Jogam  hoje a Taça Europa na Irlanda ( mais excitante do que o chinquilho, mas menos electrizante do que um torneio de badmington) . O que eles gritam? O nome do SLB.
Assim é que é. A hierarquia é boa  e eu gosto.

Adenda:  tiveram de distribuir bilhetes pelas escolas de Dublin para encher aquela chafarica .
TALVEZ:

Os  dubliners ja saibam quem vai jogar. No outro dia , a RTP-N entrevistou  alguns. Um puto alvitrou  um Celtic Vs Milan, um homem calculou um Irlanda Vs Irlanda do Norte e uma senhora perspectivou  Braga and the other team.

terça-feira, 17 de maio de 2011

METAPOLÍTICA (VII):

Não sei quem são os conselheiros políticos de PPC ( alguns devem ser os génios que  sabiam tudo em 2009),  mas não os queria nem para porteiros da Sonae. Ele faz o que pode e fá-lo com dignidade.
O penteado mudou claramente. Deixou o cabelinho à  menino da Avenida de Roma dos anos  80 e adoptou um vincado risco lateral. Resultou bem ( ninguém gosta que lhe vendam aspiradores com o ar de quem passou por um), mas terminou aí o trabalho sério. Depois chegaram os conselheiros.
Começar um debate  a discutir economia com Louçã é fácil se formos economistas. O Duque de Alba foi misericordioso e acusou PPC de superficialidade. Umas 300 vezes. Na questão do pasquim da Madeira, PPC fez de Margaret Mead, que não percebeu que  dois  homicídios  numa ilha desabitada da Polinésia equivaliam ao triplo da taxa em Londres. Louçã, claro, fez de George H. Mead. Apesar  de tudo, PPC defendeu-se bem ( os outros meninos  fazem mais mal  qu'eu) . O pior, no entanto, estava para vir.
Os conselheiros políticos de PPC deixaram-no ir para a ponta final com duas definições: os desempregados são calaceiros imorais  e os maduros das  Novas Oportunidades são labregos que compraram ignorância a preço de ouro de lei. Louçã explicou que não se deve arrasar um programa  e só  depois pedir  a avaliação do dito. Contratem Louçã.
Tudo isto vai contar pouco. Por isso é apenas metapolítica.
 CERTEZAS:

Então e o casamento?
Achmet- Se alguém sonhou que fez sexo  com uma idosa desconhecida , terá prosperidade proporcional à  intensidade com que a idosa  o amou.
Kierkeggard - Sei que no coração da minha mulher bate um coração humilde,  tranquilo  e regular.
JARDIM E A COBARDIA DO PSD:

Bem me recordo, na altura escrevi sobre isso no Mar Salgado, da bela ideia de MFL andar  a refilar contra a asfixia democrática no continente e depois ir à Madeira fazer salamaleques a Jardim.
E isto é mais um retrato  de Portugal do que da Madeira, porque  há mais zonas do país  com ligações perigosas e  porque é a República que se cala.
ISSO AGORA SÓ COM GELO:


O que vos parece o amor eterno?
Empedócles Impossível surgir algo que não existe e inaudito perecer o que existe; pois  existirá sempre, no sítio onde alguém o colocar
Bioy - Terei de insistir em que todas as vidas, como os mandarins chineses, dependem  de botões que podem ser accionados por seres desconhecidos?

ANTENA BIOY CASARES (III):

Não se dão conta  de um paralelismo entre o destino dos homens e das imagens?

segunda-feira, 16 de maio de 2011

ACHO MUITO BEM:

Que  a moça tenha progredido. Foi tudo no escrupuloso cumprimento da lei, como no caso das antecipação dos dividendos das grandes empresas, não foi?
Então estejam caladinhos, a lei é a lei, a moral não é para aqui chamada, etc.
EXPLORAÇÃO? QUE IDEIA.

O DN traz hoje uma peça ( link indisponível)  sobre as mulheres de classe média que engrossam as falanges  da prostituição, porque estão sem cheta e desesperadas.
Uma boa notícia para as defensoras da  "prestação de serviços", presumo.
 QUÉ?

- Bioy, o que achas da rotina?
- Nada.
- Mentiroso.  Estás morto e falas comigo.

domingo, 15 de maio de 2011

ANTENA BIOY CASARES (II):

Quem não desconfiaria de uma pessoa que dissesse: " Eu e os meus companheiros somos aparências, somos  uma nova espécie de fotografias."

ANTENA BIOY CASARES (I):

A consciência e as prisões são incompatíveis.
METAPOLÍTICA (VI):

É espantoso  constatar como tantos jornalistas-bloggers-comentadores encartados parecem ter nascido ontem. Vejo-os interpretar a luta entre  os chefes partidários  como se de umas eleições para a associação de estudantes se tratasse.
Estarmos numa situação angustiante, estarmos  em eleições antecipadas, estarmos num quadro de incerteza absoluta -  nada parece impressionar os analistas. Continuam a relativizar a sucessão dos  "pequenos  erros" e   amarrados a uma escatologia da tão querida ( deles) " narrativa" das culpas. 
Com sondagens tão apertadas, as qualidades de liderança fazem a diferença. Já não conta  a caderneta de escuteiro e o atestado de probidade. O medo, o verdadeiro juiz destas eleições, não depende da afirmação deste  ou daquele actor. O medo é o terreno e o líder é o que pisa o terreno.  Será no sentir , mais do que no compreender, que o povo decidirá. Embalando com Valery, sem o medo não há o bem sem o mal que ameaça o bem.
Ora pensem: quem vos parece encaixar melhor nesta descrição?
O CLIMA MAU-MAU:

A revolta Mau-Mau é absolutamente original no quadro das insurgências africanas. Tanto quanto se sabe, não envolveu chineses, soviéticos ou radicais islâmicos. Não compreendo por que motivo não compreendem este meu fascínio.
Robert Ruark e Brian Herne são as minhas fontes habituais, mas,  de vez em quando , um ou outro artigo acrescenta um ponto. É o caso deste, que se foca sobretudo na percepção  política que a  administração colonial desenvolveu, bem como no papel sinalizador que  a revolta desempenhou. O slogan de M'thenge - " Um só de nós é suficiente para fazer ajoelhar o Império Britânico" foi, de facto, o mote para muita coisa no continente.
Não foi só o  carácter local e isolado  das lutas geopolíticas. A mecânica Mau-Mau - e por isso aproveitei uma pequena  parte da essência para a minha também pequena novela, que se passa numa cidade normal dos tempos de hoje - foi um filme de  terror superiormente dirigido  e interpretado. Muitos aspectos haveria a referir, mas deixo o mais importante: os colonos brancos perceberam  que era inútil construir barricadas em redor das fazendas. A morte, através de golpes de pangas ou de balas disparadas  por arcabuzes artesanais ( davam um post inteiro) e  Stens roubadas aos ingleses, vinha  pela  mão de criados ( cozinheiros, moços de estrebaria, etc)  com muitos anos  de casa. De repente, perfeita.
DEVOLUÇÃO DA CORTESIA:

Uma das muitas lendas que eles inventaram:  o recorde benfiquista  de Hagan ( um campeonato sem derrotas em 72/73 )  só aconteceu porque nesses tempos o Benfica dominava a arbitragem

sábado, 14 de maio de 2011

DUAS VELOCIDADES:

A edição ( D.Quixote, 1971)  é acarinhada. Começa porque o exemplar  está dedicado ao meu pai, com quem Carlos de Oliveira manteve uma relação de quase amizade. Depois, porque a capa é de Lima de Freitas e as fotografias são de Augusto Cabrita. O Aprendiz de  Feiticeiro reúne dezenas de escritos vários ( é lá que podemos  ler a reportagem que Oliveira faz do funeral de Afonso Duarte, esse esquecido que já foi lembrado aqui no Mau-Mau).
A página tantas: Escreve-se sempre num ponto morto, entre duas velocidades: a que se extinguiu e a que vai surgir. Isto para desbobinar sinónimos:  a pausa é a morte aparente que é a vida fingida que é a criação literária.
METAPOLÍTICA (V):

Bem, deveria ser o VI, mas o Blogger não deixou. Adiante, com notas atrasadas e outras apagadas:

1) Na metapolítica  interessa-nos o despeito: já repararam  que de cada vez que dizem "num país civilizado, Sócrates  seria riscado eleitoralmente", arriscam-se a ficar com uma nação  de ganguelas nas mãos? Mais: se assim acontecer, andaram então   a fazer campanha  para um povo de canibais.

2) Passos Coelho esteve muito desconfortável no debate com Paulo Portas.  Sempre inclinado para  a frente, traduzindo expectativa excessiva e o hábito de ser instruído. A certa altura deixou de sorrir, o que interpretei como sinal de risco. Em comunicação, quando abandonamos  a nosso ritual  simbólico  é sinal de  que estamos  inseguros acerca da vantagem retórica do mesmo.

3) Quando escutamos  o dr. Catroga não necessitamos  de o ver. Catroga é  plano, raso, em sede de influência . O que diz , para o bem e para o mal, é suficiente.  Sócrates é o inverso: a sua força comunicacional, verdadeiro pathos ( porque desencadeia alterações de humor na plateia) vem da imagem. 
As frases de Sócrates - quase sempre as mesmas, o que transtorna os adversários -, a sua combinação, são o que Broch chamava unidades superiores. A "narrativa", que os jornalistas e comentadores agora usam até para puxar o brilho aos sapatos, não é para aqui chamada. Não há narrativa  nenhuma, porque as unidades superiores são apenas elementos de ligação acumulados: provocaram uma crise política é independente de defender o estado social. De certa forma, uma acção de guerrilha, sem centro e sem flancos.
ENFIM:

O Blogger apagou vários posts. Vou ver se consigo recuperá-los.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

MADAGÁSCAR:

Pedro Mexia usa bruxuleante em poesia. Pior do que um cliché, é um cliché necessário.
Saio do livro como o amigo de Fourier sai da casa da amante: a cantarolar  não há nada mais belo do que  a minha mulher.
METAPOLÍTICA (IV):

Graças a Sócrates, ficámos  a saber que para o Bloco o  problema de Portugal é a burguesia.
Estas conversas sabem-me bem. Como dizia o mestre Bioy Casares ( vai ter uma antena aqui no Mau-Mau para compensar o lusitano desprezo a que é votado ) , a intimidade é comentar o mundo.
METAPOLÍTICA (III):

Sócrates é sério. Nos debates, exceptuando PCP E BE, que, se o país  estivesse sentado em cima de um lençol de petróleo continuariam a  afivelar o ar de vítimas da fome, Sócrates  é o único que exibe uma linguagem corporal comprometida. Portas ri-se muito, parece  estar  num chá de tias; Passos sorri-se muito, parece estar no alfaiate.



terça-feira, 10 de maio de 2011

Y PUEBLO MISMO:

Unamuno a Pascoaes, Setembro de 1908:

"No les falta a ustedes hombres, lo que les falta es cohesión, espírutu de solidaridad, fe en sí mesmos y en su pueblo y pueblo mismo."

METAPOLÍTICA (II):

Droit au but, porque é assunto de claques.
Por exemplo, nos blogues: os apoiantes de Passos Coelho dirão sempre que ele ganhou os debates, os apoiantes de Sócrates dirão sempre que ele ganhou os debates. Aconteça o que acontecer.
No outro lado. Quando Carrilho fulmina Sócrates ( sim, marcação ao homem), é um corajoso independente;  quando Santana Lopes  bica o PSD, é um idiota útil.
É tudo tão estúpido que chega a ser perfeito.
METAPOLÍTICA (I):

Quando vemos  dois  partidos que nutriram  as gorduras do Estado, que as empregaram como capital político e que as encararam como um lugar de trânsito para mercadorias avariadas ( o Soren não se importa que use a sua fórmula), prometer que as vão retalhar, um cidadão sente-se, por momentos, um ser superior.

SAFARILAND (I):

George Six. Conheço a história de muitas personagens do mundo dos white-hunters do século passsado e  a de George Six é uma das melhores *. Saiu de Londres como médico  e foi para  a Tanganica ( actual Tanzânia), provavelmente em 1951 ou 1923,   com  a intenção de  se tornar agricultor. Abriu  uma loja de armas em Arusha e comprou uma  herdade em Kiru Valley. Infelizmente, a tripassonomíase ( tse-tse) infestava a região e , em vez de gado, a terra fervilhava de búfalos , elefantes e rinocerontes. Num ápice  tornou-se  amigo de famosos caçadores como Stan Lawrence e Jacky Hamman e aprendeu a caçar. Tão depressa  retirava um apêndice como consertava um motor diesel ou dizia o nome científico de um peixe.
Six falava inglês, francês, swahili, espanhol e alemão ( tinha sido criado e viajado por uma família ligada às artes e ao cinema). Em 1956, recebeu em Arusha a amiga Leni Riefensthal, que queria fazer um documentário sobre ao comércio  de escravos na África Oriental ( o Scharwz Fracht ou Black Cargo) . É normal os glorificadores de exterminadores de judeus terem esta ternura por outro povos. Numa das deslocações,  tiveram um acidente de jipe em Garissa Bridge, nas margens do Lago Tana. Leni  ficou ferida, foi recuperar à Alemanha  e regressou para acabar o filme. Mais tarde, o socialismo tanazaniano nacionalizou as grandes herdades e a de Six ficou ao abandono.  Ainda assim, aceitou um convite do governo para desenhar aldeamentos turístico-cinegéticos  no Serengeti. Foi viver para Dar es Salaam e casou outra vez, desta feita com uma americana de origem irlandesa. Em 1980, não aguentou o novo fôlego marxista tanzaniano e emigrou para os EUA,  onde acabou os  dias a projectar jardins aquáticos em Raleigh, Carolina do Norte.

* com a ajuda inestimável de Brian Herne.

domingo, 8 de maio de 2011

COZINHA (VII):


Vejo com satisfação o reconhecimento publicitário do pescado  português. José Bento dos Santos lançou a campanha, outros  se seguirão. Talvez os pseudo-mestres , os da sensação de ovo escalfado com risotto de salmão aprendam alguma coisa. A forma como é tratado o peixe da costa nos botequins  da  maioria dos wannabes faz-me sempre  lembrar a Carne com Batatas à Almeida das Pêtas. Os Makavenkos gozavam com a famosa  receita de Francisco de Almeida,  que mais não era do que ...carne com batatas.
O camarão da costa, por exemplo, já não faz rissóis. Já provaram um arroz de camarão da costa?  Pois não sabem o que perdem. A preguiça e a ignorância afastaram estes dois aproveitamentos. Dão muito trabalho.
O robalo ( a maior parte das vezes ressequido e apimentado), os omnipresentes e enfadonhos   filetes de peixe-galo, o atum-do Mediterrâneo apenas corado,  Já um arroz de sardinha, o carolino derretido na cebola e nos pimentos,  sustentando as lindas decepadas e escaladas - fica mal em mesa de patos-bravos.
Nem sempre  a tradição. Muitos percebes, percebem? Tantos, que não se lembram de os juntar num gaspacho sem tomate, apenas o caldo coado e arrefecido da fervura dos capítulos ( a unha) , acomodando  os orgãos reprodutores femininos segados. O conjunto é  perfumado com um dente  de alho e, se me permitem, um cheirinho de rosmaninho cuja secura  combina bem com as cornucópias rochosas.  Serve com tostas azeitadas  de pão de Vila do Bispo.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

FÉNIX:

Nunca desesperar, nunca renegar. Nas paixões temos de ser  racionais. Precisamos mais delas do que elas de nós.
Cheguei à garagem já estava nos descontos. Vou no elevador e imagino  ouvir um gooooooooolo sumido mas persistente. Um vizinho benfiquista, talvez a ver o jogo com o filho e  com o rádio aos berros. O elevador parou e fez- se silêncio. Baixei a cabeça e procurei as chaves de casa. Nem por um momento me passou pela cabeça que o golo, afinal um silvo do elevador,  pudesse ser do Braga. Isto é a paixão.
O que imagino a frio é um futuro. Se desprezarmos o poder do adversário,  acabamos a ferros; se ignorarmos o que somos, não passamos de carrascos. Repito-me:

1) Um presidente do Benfica. Nascido e criado no Benfica e não em casa de  presidentes de terceiros. Um presidente que saiba pensar, falar e  articular ideias. Pessoas inteligentes tomam frequentemente boas decisões.
Para fazer de caixeiro-viajante e negociar com a banca, há muitos profissionais disponíveis.

2) Um presidente brutal. Defender o clube significa por vezes ter de engolir o orgulho, dar o braço a torcer, recuar. Não se gere o Benfica como uma oficina de pneus. A bem dizer, não se gere o Benfica: defende-se o Benfica. O clube não existe para alimentar a fome de  prestígio ou o sentimento de inferioridade social.
Um presidente assim tenderá a rodear-se de pessoas  que o afrontarão se ele puser em causa o Benfica. São os melhores tenentes e não são papagaios que dão palpites para os jornais à  primeira contrariedade.

3) Uma equipa técnica de benfiquistas. No situação actual do clube tem de ser assim. Principal qualidade a seguir ao benfiquismo: saber liderar. Não me digam que não encontram ninguém.
Isto é crucial porque não podemos voltar a ter  um treinador brilhante, mas  que põe a sua carreira e conta bancária à frente do Benfica.

4) Os pontos  1, 2 e 3 são requisitos fáceis de preencher. Basta encontrar um presidente e uma equipa técnica que saibam que não vão ganhar nada para o ano e  que se estejam nas tintas para isso.



quinta-feira, 5 de maio de 2011

SANTOS,  CAVALOS & FRANGOS:

1) Este senhor, que, se não estou em erro, arbitrou  o jogo ( particular, notem)de festa de despedida do velho estádio das Antas e que foi acusado pela infame direcção do dr. Ricardo Costa e depois absolvido pela nossa eficaz máquina judicial, voltou a ser apanhado.

2) O jornal do FCP ( e, res extensa, do Braga)  titulava ontem a opinião do especialista em direito deportivo, o dr. Meirim, segundo a qual  um  envelope enfiado debaixo da porta do árbitro não é coacção,  porque fotografias não são coacção. Claro, a  cabeça de cavalo enfiada debaixo do lençóis também não continha qualquer ameaça ( excepto para os cavalos). Arquive-se.

3) Hoje vamos  ao Braga, clube que afinal "sabe receber os adversários" segundo o sr. Salvador ( as maravilhas que uma organização internacional de futebol desencadeia).  E vamos com um frango  a número 1. 
A couraça, adquirida nestas e noutras lides, é dura, mas há uma coisa , uma única coisa que me tem conseguido irritar a ponto de não apreciar a açorda de bacalhau: uma época inteira a tentarem negar a evidência. 
Se até nisto julgam possível tomar  os benfiquistas como imbecis, o que não conseguirão em outros assuntos longe dos holofotes?

quarta-feira, 4 de maio de 2011

PASCOAES E A SITUAÇÃO:

Somos tremendistas ou somos  o que somos? Em Outubro de 1908, de Amarante, escrevia ele a Unamuno:

(...) N'este momento, Portugal  é um mysterio. É  impossível a gente  calcular o que virá a ser d'elle. É  uma Patria que a noite envolve,  entregue aos morcegos e às aves agoureiras. Aqui, não se vê um palmo adeante do nariz; é tudo confusão e sombra."


terça-feira, 3 de maio de 2011

UMA ESQUECIDA:

Está viva mas pouco lhe ligam. Maria Alberta Menéres. Prolixa em literatura infantil ( dezenas de títulos)  e organizadora ( com Ernesto de  Melo e Castro)  das Antologias ( da novíssima poesia portuguesa)  nos anos 50, 60 e 70. Traduziu Perrault ( não sei  se é a edição que tenho, está perdida no meio da confusão da mudança  de casa) e adaptou Fernão Mendes Pinto para a linguagem actual. É descrita como compagnon de route do surrealismo ( colaborou com Cesariny), mas deixo isso para os críticos. Tem coisas enfadonhas  e banais ( abusa de árvores, náufragos,  incêndios e outras pestilências) , coisas justas ( quase todo Os Mosquitos de Suburna)  e outras muito boas. Como esta:

E uma letra início de tormenta
ou palavra destino de viagem.
E não chegamos nunca ao rosa-mar
nem esta solidão chega a ser vício.

( O Robot Sensível, 1961)

domingo, 1 de maio de 2011

Frango de Roberto no Olhanense 1 - Benfica 1 Jornada 28 01/05/11



Um dia, esta gente,  que o contratou, mas sobretudo que o põe ( e manda pôr) a jogar, há-de ser julgada em tribunal.
Não lhes bastou dar nove pontos de avanço ao Porto logo no início da Liga, não lhes bastou semear ofertas em várias competições, não lhes bastou desmoralizar uma equipa.
Querem mais, os traidores.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

A HISTÓRIA:

No Ipsilon de hoje. Fala-se dos novos autores e da escola da narração. A minha pequena novela é uma história, mas eu não sou, de certeza, um novo autor ( supondo que  a novela será publicada). Liberto desta grilheta, comamos o ifunde.
Pode-se contar uma história fazendo de conta que não? Pode. Cormac McCarthy fá-lo em Meridiano de Sangue. Pode não se contar uma história fazendo de conta que sim? Pode. Vian fá-lo em Irei cuspir-vos nos túmulos.
Em Mau-Mau, a história é simples. Um engano, uma execução que corre mal e eis um personagem metido numa alhada.Não há intenção de fazer com que a história ilustre  ou suporte nada. É a reacção do personagem ( o  leitor poderá observar  de uma forma, digamos, muito especial)  que  compõe  a história. Como na vida, embora o compreendamos  sempre  tarde demais.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

CONTINUANDO:

Fazer da biografia um lugar artificial. Sempre ( é uma obsessão) Tolstoi e morte de Ivan Ilitch. O relambório do moribundo pode ser  o nosso relambório, até porque é sobre  a vida que não tivemos ( nos comentários aludo à minha interpretação). António de Sousa ( está aí em baixo na secção dos esquecidos) imaginava-se em Calecut  posto a ferros  por Vasco da Gama, London cruzou  a experiência com a possibilidade de ser um cão de matilha, etc.
O osso. Fazer da biografia um lugar artificial autoriza-nos a abandonar   os nossos limites - transportando a carga  real - e regressar com novidades. Só a escrita consegue construir de raíz  uma vida que poderia ter sido, com todos os detalhes do que não foi.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

EXACTO:

Mas é necessário  fazer da  biografia um lugar artificial.
 
E AINDA OUTRO ESQUECIDO:

António de Sousa. Portuense  de nascimento ( 1898) , anacoreta de Algés ( na rua Luís de Camões) depois da morte da mulher ( Agora fiquei só eu / e a cinza do meu  cigarro/ e os livros da minha estante).
Livros. Caminhos, Sete LuasIlha Deserta e duas edições  com desenhos de  Manuel Ribeiro Pavia, que muito daria para encontrar. Regressarei a este poeta às avessas com outros cuidados, mas não se pode esquecer quem escreve assim:

Mentindo, sorrindo,
Me fui consentindo.

terça-feira, 26 de abril de 2011

sábado, 23 de abril de 2011

TELÚRICO:

Na  Taça dos Amendoins, depois de um soco noutra taça, um estádio cheio. 
Podem rosnar durante milénios, podem comprar  vitrinas maiores, podem continuar a inventar perseguições, podem  ( e devem) regionalizar até ao mindinho, podem fazer o que quiserem: olharão sempre  de baixo.
 NÃO ESQUECER:


Sebastião da Gama. Passei a apreciar  mais a  poesia de  Sebastião da Gama, quando, há cinco ou seis anos , li um texto  de Ruy Belo na Rumo.  Gama vagueou por revistas e projectos, mas faz parte dos que não receberam a benção revolucionária pós-74. Um dos pecados deve ter sido o de ter colaborado  na Távola Redonda ( de Mourão-Ferreira) onde também escrevia Goulart Nogueira. Este bicho do teatro  ( traduziu Kleist e Strindberg e adaptou Goethe e Racine para a rádio) foi um dos intelectuais do regime. Escreveu  abundantemente   nos orgãos próprios e dirigiu a Oficina de Teatro da UC , um dos pontos de apoio da extrema (e da pouco extrema) -direita coimbrã ( Lucas Pires, Júdice, etc) reunida em torno do Combate e da  Tempo Presente (  Valle de Figueiredo,  Sá e Cunha, etc).
Já vai longa  a digressão. Retornemos a Sebastião, dono de uma poesia directa e de uma  morte tuberculínica  sob os poentes do Portinho da Arrábida. Este vale a vossa visita:


Os que vinham da Dor tinham nos olhos
estampadas verdades crudelíssimas.
Tudo o que era difícil era fácil
aos que vinham da Dor directamente

( Campo Aberto, 1951)

sexta-feira, 22 de abril de 2011

E AINDA OUTRO ESQUECIDO:

Luís Veiga ( Maria)  Leitão ( 1915-1987). De Moimenta da Beira  ao Brasil ( exílio político)  e por fim o Porto.  Seara Nova e Vértice, claro, mas também trabalhou  com Melo Viana, Egito Gonçalves e Rebordão Navarro nos portuenses fascículos  Notícias do Bloqueio.  É descrito como poeta-militante,  coisa que não sei o que significa.  Também não é muito lembrado e, na minha opinião, sem grande celeuma. Só que na poesia  há sempre a contradição. Assim, recordo-o aqui com este pedaço  militante e  bom:

Que nos  cubram de  ameaças e de espanto
Que nos cortem as asas mas o canto
Voa muito mais largo do que as penas.

( Latitude, 1950)

quinta-feira, 21 de abril de 2011

LÁ EM CIMA SERIA ( É) ASSIM:

Se tivéssemos no banco um benfiquista, não teriámos  visto um tipo abúlico e  conformado,   à espera do 0-3 para mexer na equipa;  e teríamos tido  um gajo, no final, a atirar-se ao fora de jogo no segundo golo e à expulsão perdoada a Sapunaru. Depois, só depois, veríamos o tal tipo  envergonhar-se do jogo da sua equipa.
Nem tudo foi mau-mau. A minha filha irrompeu na sala, onde eu e o meu filho assistíamos  ao enterro,   e atira naquele jeito feminino de ordenar o mundo: "Então estava 0-0 ao intervalo e agora está 3-0????".  Dei-lhe o  berro mais forte que até hoje ouviu e expulsei-a do recinto. A catraia  aprendeu que a fenomenologia  da causalidade não se aplica nestas situações.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

MAIS ESQUECIDOS:

João Brito Câmara. Lisboeta tornado madeirense, também passou por Coimbra. Considerado menor e , porventura, justamente esquecido, dá-lhe de vez em quando para usar bem a lente. Como neste Esplanada à Tarde ( incluído  em Poesias Completas, 1967, posterior à sua morte) :

Alguém que passa e fala e vai embora,
Uma janela ou outra que já arde.




POR FALAR EM ESQUECIDOS:

Afonso Duarte. Nasceu e morreu na Ereira, perto de Montemor o Velho . Foi um coimbrão dedicado e  também professor na UC até que Salazar o obrigou a a bater em retirada. Grande amigo de Carlos de  Oliveira, que descreveu o enterro do poeta na Gazeta  Musical e Todas as Artes : (...) vai por uma quelha barrancosa, estrumada aqui e ali, entre currais e sebes. Vacas espreitam dos  estábulos , mansas e piedosas. (...)  Dois ou três quilómetros  de intimidade aldeã: interiores  pobres, cristas rutilantes de galos, velhos que parecem figuras de madeira  rugosa a cismar nos umbrais.
Afonso Duarte  colaborou com Nemésio e Branquinho da Fonseca, escreveu na Presença e na Tríptico ( com Nemésio) , cuidou de muitas gerações de aspirantes a poetas e escritores. Lírico e campestre? Certamente, mas nem sempre:

Erros meus  a que chamarei virtude,
Por bem vos quero, e morro despedido
Sem amor, sem saúde, o chão perdido,
Erros meus a que chamarei virtude.

( Sibila, 1950)

terça-feira, 19 de abril de 2011

PRITCHETT:

Perguntam quem se lembra hoje  desse extraordinário contista do quotidiano. Pois bem, aqui fica um pedacinho de It May Never Hapen:

Mr. Belton was half an hour late . He was one of those cheerful self-centered men whose tempers shorten when they  are in the  wrong. They put themselves right by sailing out into general reflexions.
"Punctuality, Vincent, is everything.," said Mr. Belton, bitterly. "How long have you beem there?"
"Half an our"
"Why have you been here half an our?"

terça-feira, 12 de abril de 2011

UMA GRANDE FÓRMULA:


Da felicidade, essa coisa fugidia, da autoria de   Nuno Bragança, em A Noite  e o Riso. À  saída  de  "O Canário", o personagem  vira-se para o porteiro: Estou no topo de um cedro e vem aí um pintassilgo partir-me os olhos.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

NÃO HÁ FAIR PLAY PARA OS INIMIGOS DO FAIR PLAY:

Em oito anos  de blogue, nunca para os comentadores portistas dos meus textos os jogadores  do Benfica foram mais do que os encornados: Os Ti Marias, os Simulão Sabrosa, os Caimar, etc. Nem  o facto de comentarem textos meus que muitas vezes elogiaram jogadores do FCP  ( no  arquivo  recente: Fernando, Lisandro e Falcao), os inibiu de vir à minha casa com esse discurso. Também nunca li uma linha de repulsa sobre o que se ouviu nas escutas do Apito Dourado ou sobre qualquer outro aspecto comum ao desvario futebolístico geral. Já quando eu  malhava ( é o termo) em Vieira, mesmo nos  anos em que fomos campeões, abria-se neles a capacidade crítica  e os elogios à minha independência ( como no  aviltante caso Moretto-aeroporto) .  Em suma, conclui que não valia a pena  manter uma conversa em que de um lado há sempre gente valorosa e invicta e do outro apenas palhaços. E fechei a loja. Doravante , futebol será aqui, se for,  e sem conversa.
Este exemplo dos blogues mimetiza a realidade. O episódio do apagão ( sem o lado da segurança, porque  assim foi separado na discussão)  pode ser criticado pelos mesmos adeptos portistas que criticam a impunidade dos Super-Dragões ( a babada em livro ou a do golfe) , o espancamento de Carlos  Valente no balneário das Antas quando o Benfica lá selou o título ou as vergonhosas aldrabices constatadas  nas escutas do Apito Dourado . Também pode ser criticado pelos mesmos  que, queixando-se da suspensão de Hulk no ano passado , não reduzem o título  de Trapattoni "ao jogo do Estoril no Algarve" , esquecendo que nesse ano o FCP teve  três ( 3!) treinadores e chegou a levar 4-0  (do Nacional) em casa.  Também pode ser criticado  pelos que, este ano, quando a coisa ainda não estava decidida,  não vinham aos meus posts insinuar o doping como explicação para o futebol espectacular  ( e desmiolado, diga-se), mas que não reconheciam  ( é bizarro, não é?) , das 18 vitórias consecutivas. A esses, como benfiquista, digo que o Benfica fez muito  mal em apagar as luzes .
Quanto aos outros, que fazem do fair play a mesma ideia que  um crocodilo faz de uma zebra afogada, desejo que um dia os confundam com um director do Benfica à saída  do Shis, mas com muito mais vigor.