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sábado, 28 de maio de 2011

TRANSPOSIÇÕES:

Os organizadores dos  acampamentos europeus  queixam-se da diferença de tratamento e de adesão relativamente  às sublevações árabes. Julgam que estão a fazer a mesma  luta e por isso não compreendem  a discriminação. Há muitas coisas que não compreendem:

1) Não é difícil compreender que um europeu médio não necessite das  juvenis praças para  exprimir democraticamente. A menos que ceguemos face ao que conquistámos  nos últimos dois séculos. É por isso que os mais entusiastas da movida são os democratas de inspiração cubana, estalinista e Ho-Chi-Min style. Há um pequeno problema de tradução.

2) Os media, que não são parvos e têm de  fazer dinheiro com um mínimo de credibilidade,  não sabem como  vender a ideia de que os jovens enquadrados pelos seguidores de Badiou estão a lutar pela democracia. A comparação com as sublevações árabes acaba em dois planos:

a) No dos  costumes, uma  lisboeta  pode adormecer de mini-saia,  vagamente alcoolizada, no Rossio sem ser incomodada com outra coisa que não um pequeno-almoço no dia seguinte. No Cairo acordava algo combalida.

b) No político, os árabes não têm culpa do essencialismo ( a base do orientalismo) que assaltou os observadores europeus.  A revolta tunisina e egípcia  foi muito mais do que uma luta pela democracia. No norte de África, os homens e mulheres que decidem arriscar a vida em batelões decrépitos até Lampedusa,  não o fazem pelas ideias de Burke ou Tocqueville.

Que existe  um grave problema de representatividade nas democracias europeias, não se nega. Que muitos destes jovens estiveram, até hoje,  orgulhosamente apartados da política , idem. Agora tocou a sineta?  Sim, mas vai ser necessário levantar o acampamento. As batalhas não se ganham a bivacar.

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