Se nos abstrairmos do passado ( a responsabilidade de milhares de "jovens" que não se importaram de frequentar cursos que sabiam ser de fachada) , a revolta tem sentido. A acusação de que exigem um emprego seguro, no estado ou não, não colhe. O problema é mais grave.
Não sei se é uma ou duas gerações, sei que são dezenas de milhares de licenciados que são hoje tratados como carne para canhão. De certa forma, são emigrantes ilegais no seu próprio país. É com eles estabelecida uma relação de poder na qual os emigrantes internos não podem jogar nenhum atributo ( para usar o código de Crozier e Friedberg) . Não representam nenhuma massa trabalhadora essencial ao país, não estão sindicalizados, não dispõem de uma bancada partidária. Do lado dos empregadores, joga-se umas centenas de euros e um estágio/cenoura não-remunerado e , talvez, no caso do Estado, alguma benevolência.
A zona de incerteza de que dispõem os nossos emigrantes ilegais internos é muito reduzida. Não há greve, não há corporações, não há apoio partidário limpído. Só vejo uma possibilidade, um atributo que possam jogar na relação de poder: a violência pura e dura.
Acontece que o estatuto de emigrantes ilegais internos é pouco consentâneo com tal escolha. Não os une qualquer cimento ideológico, religioso ou sequer cultural. Não foram educados na retórica reivindicativa e de protesto. Não possuem líderes capazes de os arrancar desta moleza invasiva.
Teremos de aguardar.
Sem comentários:
Enviar um comentário